domingo, 15 de abril de 2012

Renata Zanetti Morelli                                                                              RA: 103951


Análise crítica – Teoria Piagetiana 


                 Piaget foi um grande pensador que introduziu novas ideias relacionadas à Psicologia. Trabalhou intensamente na pergunta: como se constrói a inteligência? Piaget negligencia as duas teorias da época: o apriorismo, segundo a qual a inteligência é inata, e o empirismo, que defende que o conhecimento está fora do sujeito. Piaget sugere uma nova ideia, a teoria interacionista, construtiva, que diz que o conhecimento está na possibilidade de interação entre o sujeito e o objeto (meio). Sendo biólogo, Piaget acredita que a biologia tem importância na teoria do conhecimento, a qual não é, como defendido pela maioria dos pensadores, apenas baseada em conhecimentos filosóficos. Este é um dos vários pontos diferenciais da teoria piagetiana, conhecida como epistemologia genética. Epistemologia porque Piaget foca na construção de conhecimento, e genética porque essa construção se dá desde o começo da vida do indivíduo, desde que somos crianças.
                Como já dito, para Piaget conhecer é explicar algo a partir daquilo que foi vivido, ou seja, da relação do indivíduo com o meio. A experiência é fundamental para essa construção: sem a experiência não se constrói o conhecimento. Para Piaget esta construção se dá pela assimilação e acomodação. Ao entrar em contato com o meio o indivíduo tira informações desta relação: isto é a assimilação, ou seja, informações novas são adquiridas e incorporadas a um sistema já existente. Esta permite que o indivíduo conheça o objeto e dê um significado ao objeto novo, que acabou de ser assimilado. Ou seja, é estruturando aquilo que ele vive que o sujeito vai construindo sua realidade, seu conhecimento. Caso a assimilação não seja suficiente para que o objeto novo seja conhecido, o sujeito irá usar a acomodação, ou seja, irá modificar as estruturas antigas para entender as singularidades de um objeto.
               Em ambos os casos, conhecer uma situação nova envolve a saída de um estado de equilíbrio das estruturas cognitivas, a entrada em um conflito. Entender esta situação significa voltar a este estado de equilíbrio. Durante a obra piagetiana este conceito de adaptação, de volta ao equilíbrio evolui. Num primeiro momento a adaptação é dada como um processo irreversível. Num segundo momento ela é uma equilibração majorante, isto é, uma situação em que ao se sair do equilíbrio ele é buscado novamente. Porém agora a adaptação não é irreversível: é possível voltar ao estado anterior para que um novo conhecimento seja buscado. Esta volta é muito fácil de ser realizada. Por fim, a adaptação é explicada como uma abstração reflexiva, na qual há incorporação das informações resultantes de uma ação sobre um objeto. Entretanto, é importante ressaltar que em todos os casos a adaptação sempre resulta de uma ação.
              A ação, no entanto, só é possível graças à construção de esquemas, que são instrumentos para a percepção do mundo, é tudo aquilo que é generalizável em uma ação. Durante o desenvolvimento do sujeito, os esquemas se modificam para que se acomodem a uma nova situação.
             O desenvolvimento intelectual se dá em estágios, os quais possuem número e natureza de esquemas diferentes. Este desenvolvimento é um processo de equlibração progressiva: sempre há a busca pelo equilíbrio. Vemos então que a busca pelo equilíbrio é fundamental para a construção do conhecimento.
            Outro ponto importante da teoria Piagetiana é que para ele a linguagem não é fundamental para a construção do pensamento, diferenciando de todos os outros autores até então. A formação do pensamento e a aquisição da linguagem caminham paralelamente. Ela é necessária para o desenvolvimento da inteligência, mas apenas em um estágio mais avançado. Esta ideia de que a linguagem não é fundamental em um primeiro momento para a formação da inteligência dá maior importância para as crianças nos primeiros anos de vida, que embora não tenham linguagem têm um desenvolvimento mental, são inteligentes.
            Piaget também desenvolve sua teoria em relação à moral. Para ele, a moral é um conjunto de regras cuja essência está no respeito que o sujeito tem por essas regras. Em um primeiro momento a moral é entendida pela criança como uma lei, mas depois ela passa a entender que a moral é um acordo racional. Para Piaget, a formação de um juízo moral passa em um primeiro momento por uma fase de coerção, mas depois ocorre a cooperação, isto é, a criança entende o ponto de vista do outro e assim consegue construir um respeito mútuo. Neste ponto cabe destacar a relação das crianças com as “autoridades” de sua vida, como pais e professores. A criança, nos primeiro estágios de seu desenvolvimento, apenas respeita as autoridades por entender que é uma obrigação. Em um segundo momento o respeito ocorre porque a criança se põe no lugar do outro, entende esta relação eu-outro e entende a importância do outro, e por isso passa a respeitá-lo.
          Outro ponto destacado na teoria piagetiana é a aprendizagem, que é aquilo que está restrito às aquisições em função do que foi vivido. É diferente do desenvolvimento intelectual, embora ambos estejam relacionados à aquisição de conhecimentos e sejam interdependentes: a aprendizagem permite que o desenvolvimento ocorra, mas não é a única força propulsora para tal. Toda aprendizagem implica que haja uma desorganização mental para que o equilíbrio seja buscado e atingido. Aprender, além de ser um acúmulo de informações, é uma reconstrução mental de maneira que o resultado seja superior à situação anterior.
           Outro ponto diferente é como o erro é visto: ele é um desequilíbrio momentâneo que se conduzido construtivamente leva a aprendizagem. Mas até que ponto o erro é uma maneira de aprendizagem, e não um erro verdadeiro, que na realidade nada ensina? Isto é algo a se destacar no pensamento piagetiano e que acaba sendo “polêmico” entre os educadores. Este erro construtivo é importante para a aprendizagem, mas ele deve ser conduzido por um educador, pois caso contrário, a criança pode errar sempre e acabar por não aprender nada. Ou será que os educadores devem deixar a criança errar livremente e aprender com estes erros, por mais demorado que este processo seja? Este é um dos pontos bem criticados na teoria de Piaget.
           Para Piaget, toda essa questão do desenvolvimento intelectual e da aprendizagem se dá em estágios. Eles estão divididos de acordo com a faixa etária: à medida que a criança amadurece física e fisiologicamente ela constrói sua inteligência. É a própria criança que constrói seu conhecimento mental, a partir da maturação, estimulação do ambiente físico, aprendizagem social e equilibração.
           Por maturação entende-se desenvolvimento biológico (vemos aqui a importância da biologia na teoria piagetiana). A estimulação do ambiente físico é a experiência adquirida das ações do sujeito sobre o meio. A aprendizagem social se refere às relações sociais do sujeito, principalmente aquilo que diz respeito a moral. Por fim, a equilibração se refere à situação constante do sujeito sair do equilíbrio e entrar em conflito, e acabar buscando o conhecimento para voltar à situação inicial.
           Os estágios do desenvolvimento são:


          1) Sensório Motor (0 – 2 anos): a inteligência é prática e o pensamento vem sem a linguagem. A criança é egocêntrica, acreditando que tudo sempre se refere a ela. Ela não sabe ainda distinguir o eu do mundo. Aprende por tentativa e erro e age no mundo baseada em reflexos.
          2) Pré-Operatório (2 – 7 anos): a inteligência deixa de ser prática e passa a ser representativa e interiorizada. A criança consegue agora se lembrar dos acontecimentos. Ela já distingue o eu do mundo, e dá vida às coisas inanimadas, da mesma maneira que torna coisas com vida artificiais. A linguagem, agora presente, permite que surjam funções simbólicas.
          3) Operatório concreto (7 – 11 anos): a criança já forma esquemas conceituais, mas ainda precisa de algo palpável para compreender um objeto ou um conceito, por exemplo.
          4) Operatório formal (11-15 anos): aqui o sujeito consegue pensar e entender coisas abstratas, não havendo mais a necessidade de objetos concretos para que um conceito seja entendido. Neste período o indivíduo atinge a forma final do equilíbrio.


          É importante destacar que os estágios não podem ser pulados, já que a maturação tem extrema importância na determinação desses estágios. Porém um estágio pode ser mais acelerado em algumas crianças.
          Um último ponto a se destacar do trabalho de Piaget é o seu método clínico. Principalmente após o nascimento dos seus filhos Piaget passou a entender que a ausência da linguagem não é limitante para o desenvolvimento da inteligência. Começa então a analisar as crianças desde pequenas, através de seu método clínico: entrevista as crianças, conversa com elas, as deixa brincarem livremente. Todos estes “experimentos” forneceram resultados de extrema importância para que Piaget construísse sua teoria sobre o desenvolvimento intelectual.
           A teoria piagetiana é muito criticada, principalmente naquilo que diz respeito ao fato dele ter negligenciado o contexto social e histórico em que a relação meio-sujeito ocorre. Realmente, nos dias atuais em que o contexto é extremamente diferente, o desenvolvimento intelectual das crianças não é o mesmo das crianças da época de Piaget. Observamos crianças mais ativas, que se relacionam muito com o meio a sua volta, e este meio apresenta inúmeras informações a mais do que anos atrás.
          A teoria piagetiana pode ser aplicada nos dias atuais, mas devemos nos ater às mudanças que ocorreram no meio e nas relações intersociais.

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