domingo, 15 de abril de 2012

Análise do pensamento Piagetiano pelo prisma educacional
                                                    Aline da Silva Giroux ra:115984 

A rica obra de Jean Piaget tem como força motriz desvendar a maneira como o conhecimento é construído ao longo do desenvolvimento humano. Ela rompe com diversos paradigmas da sociedade de sua época e presenteia a psicologia não apenas com o status de ciência, mas também com novas ideias que serviriam á pedagogia, posteriormente.
Analisaremos aqui alguns pontos dessa obra, tendo como enfoque principal as implicações educacionais do seu conteúdo. Vale ressaltar que Piaget nunca desenvolveu um método educacional e a aplicabilidade de sua teoria além de questionável, pode ser muito perigosa. O objetivo, portanto, é analisar a relação educador-aprendiz, tendo como alicerce alguns conceitos piagetianos, e não sugerir a aplicação direta deles.
Um dos pontos centrais da obra é o conceito de estágios. Piaget acredita que o desenvolvimento do conhecimento é dado em etapas que não podem ser puladas e que correspondem á faixa etárias mais ou menos fixas. Observo que ao mesmo tempo em que Piaget, apesar de interacionista, foca sua teoria no sujeito, ele subestima suas particularidades, assim como subestima a influência do meio nesse processo. A importância dada por Piaget á sistematização do seu estudo, em busca de uma cientifização da psicologia, acaba acarretando em uma generalização perigosa. Será que podemos mesmo definir com quantos anos uma criança é capaz de determinado raciocínio? Acredito que não.
No entanto, a determinação de estágios do desenvolvimento tem extrema importância, uma vez que ao determiná-los e caracterizá-los, Piaget sugere, indiretamente, um desenvolvimento paralelo de métodos de ensino. Por exemplo, uma vez que uma criança ainda não adquiriu uma certa capacidade de abstração, não é conveniente introduzir a noção matemática de variável, e sim trabalhar com operações concretas.
 Dessa forma, acreditando que esses estágios não são estanques e nem relacionados apenas á idade da criança, ou seja, á maturação biológica, acredito ser papel do educador procurar entender em qual estágio do desenvolvimento a criança se encontra, para que então ele possa pensar na forma mais eficiente para educá-la, sem desconsiderar, é claro, que o desenvolvimento está ocorrendo á todo momento.
Outro ponto importante da obra está na questão do juízo moral e da afetividade. Piaget não apenas rompe com o paradigma de que a moral, tal como conhecemos, é inata, como também propõe "estágios de desenvolvimento" da moral, equiparando-a, em certa medida, ao próprio conhecimento, em termos de construção. Além disso, para Piaget, a aquisição do conhecimento e da própria moral está intimamente relacionada á afetividade.
Acredito haver um avanço da obra piagetiana nesse ponto, visto que é dada uma grande importância ao meio, até então deixado um pouco de lado. Cabe, portanto, a interpretação de que é sim papel do educador contribuir para o desenvolvimento do sujeito autônomo, assim como também cabe ao educador estabelecer uma relação de afetividade e confiança com o sujeito. Entendendo-se por educador tanto professores, quanto pais ou qualquer outro que exerça essa função.
Acredito, por exemplo, que quando um educador estabelece uma relação em que predomina a coação, apesar haver afetividade e de a construção do conhecimento poder ocorrer de forma satisfatória, o educador está contribuindo para a construção de um sujeito heterônomo. Por outro lado, quando o educador se propõe á árdua tarefa de estabelecer com o sujeito uma relação em que predomina a cooperação, ele tenderá a desenvolver uma moral autônoma, e consequentemente, tende a se estabelecer uma relação de respeito mútuo.
Piaget também afirma que o sujeito deve ser ativo na construção do conhecimento. Em seu construtivismo, ele de maneira alguma defende a ideia de que o sujeito deve, sozinho, construir o conhecimento. Entendo que sem abrir mão do interacionismo, Piaget rompe com o paradigma de que o conhecimento se dá por acúmulo de informações prontas e sugere que o aprendiz precisa se apropriar do conhecimento, sendo ativo enquanto assimilador e reorganizador da informação. 
Julgo, portanto, ser papel do educador proporcionar momentos de desequilíbrio, dando condições para o sujeito assimilar a informação e se acomodar a ela, buscando uma nova equilibração. Construindo um dinamismo que permita ao aprendiz se apropriar do conhecimento.
Piaget destaca como força motriz da aprendizagem a vontade inata de conhecer, sugerindo que a ausência do conhecimento causa desequilíbrio no sujeito e afirmando que a busca pelo conhecimento está relacionada á busca por uma melhor adaptação ao meio.
Observo mais uma vez a tendência de Piaget em focar no sujeito. Discordo completamente quanto a vontade de conhecer ser inata e o sujeito se sentir desequilibrado diante do desconhecido. Isso pode sim ocorrer. Mas tudo depende de como o conhecimento é apresentado. Ou seja, é essencial que um educador não apenas torne a informação interessante ao transmiti-la, como também apresente uma utilidade prática para ela –fazendo com que o sujeito acredite que tal conhecimento pode melhorar sua interacao com o meio– e, claro, a torne acessível, de forma que o desequilíbrio causado não seja grande a ponto de o sujeito desistir.
Mesmo com todas as críticas que podem ser feitas, é inegável que o pensamento de Piaget revolucionou a maneira como o desenvolvimento da aprendizagem era visto e forneceu aos educadores um série de informações que podem e devem ser usadas como bases para o desenvolvimento de métodos de ensino. No entanto, uma aplicação do pensamento piagetiano em si, como já foi dito, não é viável. Cabe aos educadores filtrar o pensamento de Piaget, de forma crítica e cuidadosa, para então pensar no desenvolvimento de um método, de acordo com aquilo que for julgado pertinente.

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