domingo, 8 de abril de 2012

Análise Crítica* Jean Piaget


 Operando formalmente a teoria Piagetiana

                                                                                            Thaís Tiemi da S. Yamasaki   R.A 120191


            Há de se considerar que embora, deveras questionada, a teoria de Jean Piaget rendeu contribuições significativas ao campo da educação (além de outras áreas), e é justamente sob tal relação que me debruço, a fim de discutir a perspectiva piagetiana e seus aspectos, de modo crítico e sugestivo. As questões que incitaram minha reflexão dizem respeito ao “olhar” de Piaget ante a linguagem e o pensamento, o juízo moral e afetividade, as implicações educacionais; e inerente a todas estas, a questão do desenvolvimento e aprendizagem.  
Minha crítica primordial à teoria piagetiana diz respeito à concepção de sujeito dada pelo autor, eu realmente não acho que seja possível universalizar todos os sujeitos, não concordo com a ideia de maturação do indivíduo, bem como não acredito que haja estágios de desenvolvimento que não possam ser “saltados”. Apenas porque uma criança não chegou ao período operatório-concreto, quer dizer que ela não pode adquirir a noção de conservação física? O sujeito deve ser biologicamente desenvolvido para poder aprender determinadas coisas? Acho que não. Piaget busca as explicações a partir do sujeito, tomando suas características próprias como majoritárias em relação ao ambiente. O papel do meio social seria fundamental, é claro, mas isto ocorreria no sentido de criar situações de desequilíbrio, “provocar” o individuo, colocá-lo diante de um conhecimento. A meu ver, o sujeito poderia, por exemplo, aprender a fazer contas de dividir com qualquer idade e não propriamente diante de uma situação específica que exigisse tal coisa. Ilustrarei meu argumento, por exemplo, uma atividade dada com o objetivo de fazer o aluno aprender a ver as horas, não será vista por todos os alunos como um meio de aprender a ver as horas, alguma criança pode a partir de tal situação, relacionar o relógio à multiplicação, descobrindo a tabuada do cinco. Ou seja, penso que uma criança pode aprender qualquer coisa dependendo do contexto social na qual se insere. Independentemente de seu estágio de desenvolvimento, o sujeito poderia (des)construir qualquer conhecimento que a sociedade lhe “mostrasse”, mas o que a sociedade quer mostrar é uma coisa, o que o indivíduo aprende é outra.
            Quanto à linguagem, discordo da concepção de Piaget ante a condição da mesma como procedente do pensamento, como representação deste e também como dependente das relações do sujeito com o mundo. Sou a favor da perspectiva de Vygotsky que compete à linguagem como anterior ao pensamento, não sendo apenas representação deste, bem como, acredito que a linguagem seja social desde o início, não dependendo da interação do sujeito com o meio. Pois, na própria linguagem há já uma constituição social, o fato de dizer “mamãe” já implica na concepção social da mãe, como origem da criança, como alguém superior em relação a ela etc. Não é preciso que o sujeito antes de dizer “mamãe” descubra que nasceu a partir da mulher em questão, que ela é superior a esta. A linguagem modifica o pensamento, na\e a partir da linguagem a criança adquire noções. Além disso, a mesma não funciona apenas como representação de um pensamento, podemos usar a linguagem para “tocar” a outra pessoa, usamos a linguagem para agir e/ou despertar a ação do outro. Por exemplo, quando digo a um amigo: “nossa, como está calor aqui dentro!”, em uma sala de aula quente; não estou apenas representando meu pensamento de que dentro daquela sala está calor, também estou tentando fazer com que o meu amigo abra a porta da sala.
No que concerne à questão do juízo moral e da afetividade, creio que as ideias de Piaget são realmente pertinentes. É preciso que haja relação de cooperação entre aluno e professor (pai e filho), esta é imprescindível, para a construção de autonomia do sujeito. Cooperar com o outro implica em afetividade, respeito mútuo e melhor aprendizagem. Creio que como pais/professores devemos abrir espaço aos nossos filhos/alunos. Aliás, precisamos ouvir o outro, acreditar na capacidade do mesmo, oferecer situações de desequilíbrio, mostrar que os sujeitos são capazes. Pois, nós somos nós mesmos graças aos outros, eu só posso ser eu porque não sou você.
Após esboçar meus pensamentos em confronto com a teoria piagetiana, devo dizer que esta é de suma importância para a educação, mesmo não sendo direcionada propriamente à aprendizagem. É preciso salientar que tal perspectiva tem como base, diversas pesquisas. Ou seja, Piaget tem propriedade para afirmar o que afirmou, afinal foi o que ele pesquisou e o que compreendeu de suas pesquisas. As concepções contra as quais me coloquei, explicam-se pelo fato de que Piaget foi um biólogo-epistémologo que visava estudar a gênese da inteligência e fazer desta uma ciência. Daí o caráter interacionista-estruturalista de sua teoria. Cabe a nós educadores “tirar” o que há de melhor da perspectiva piagetiana. Porém, o “melhor” dependerá de seu ponto de vista, de suas escolhas. Afinal, o que podemos com toda certeza adotar ante a Piaget, refere-se a sua brilhante opinião de que nós seres humanos temos sede de conhecimento, precisamos deste e que acima de tudo, somos seres capazes de melhorar a cada dia. 


Referências bibliográficas

DOLLE, J.M. Para compreender Jean Piaget. 4ª. Ed. RJ: Zahar, 1983
MOREIRA, M.A. A teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget. In: Ensino e aprendizagem: enfoques teóricos. SP: Editora Moraes, 1995. (p. 49-59).
PIAGET, J.; INHELDER, B. A psicologia da criança. 5ª. Ed. RJ: Difel, 2011.
______________________. Da lógica da criança à lógica do adolescente. SP: Pioneira, 1976. (cap.18)
_________. O juízo moral na criança. SP: Summus, 1994. (pp.294-302)
_________. Seis estudos de Psicologia. 25ª. Ed.RJ:  Forense Universitária, 2011.
RAPPAPORT, C.L; FIORI, W.R.; DAVIS, C. A idade pré-escolar. Vol. 3. EPU, 1981. (cap. 2 – Desenvolvimento Cognitivo).
TERRA, Márcia Regina. O desenvolvimento humano da teoria de Piaget. Publicações de Textos de Alunos - IEL - Unicamp. Disponível em :<http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00005.htm >. Acesso em 29 mar. 2012.

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