sábado, 14 de abril de 2012

Análise crítica da obra piagetiana


Piaget e a arte-educação
Rafaela Harumi Nakasone
RA: 103880

Esse primeiro olhar que traço sobre a obra piagetiana trouxe profundas mudanças não só na minha visão sobre a questão do ensino, da licenciatura e da arte-educação, mas também na pesquisa em Artes Visuais que desenvolvo. Eu apresentava uma grande resistência às disciplinas de licenciatura pelo fato de que elas se mostravam para mim apenas como um suporte caso não houvesse espaço para desenvolvimento dos trabalhos artísticos, Além disso, eu não concebia como possível trocas, no âmbito artístico no caso, com as crianças e adolescentes.
Jean Piaget (1896-1980), que foca sua pesquisa na epistemologia genética, coloca a inteligência como anterior à fala e que o desenvolvimento da inteligência é composto por estágios que, apesar de não poderem ser saltados, podem avançar de maneira mais rápida. Dessa forma, por mais que haja um enfoque no sujeito, o papel da sociedade merece destaque na obra piagetiana. O professor, então, deve provocar pequenos desequilíbrios aos seus alunos, já que o desenvolvimento da inteligência se dá por meio das equilibrações sucessivas. O meu julgamento que colocava como ser impossível a troca com as crianças e adolescentes passa a me parecer injusto depois desse breve estudo sobre o pensamento piagetiano. Eu colocara a ênfase somente no sujeito e se não acreditava ser possível discutir, por exemplo, a influência do papel que o expectador nos happenings da década de 1970 sobre a performance atual, certamente seria uma decorrência da pouca idade, da falta de interesse etc. A questão agora me parece outra. Qual é o incentivo para que haja um interesse não só pela história da arte mas também por um desenvolvimento artístico próprio na escola? Enquanto as discussões desenvolvidas nas aulas de Educação Artística se limitarem a releituras de certos artistas (que taxaria como os clichês da história da arte) sem que haja nenhum aprofundamento teórico é difícil que se crie um amadurecimento de seus pensamentos.
A elitização da arte poderia ser rompida em grande parte por meio de um estudo que enfocasse outras relações com as produções artísticas. Ao contrário do que se vê acontecer com a maioria dos trabalhos artístico, sobretudo contemporâneos, a relação que se estabelece com as produções populares, como artesanato, é passível de associação com a noção de cooperação apresentada por Piaget. A interação entre o espectador e tais trabalhos permite maiores trocas, ou seja, estabelece-se uma relação de diálogo que muita vezes não ocorre com as manifestações artísticas contemporâneas. Assim, pode-se dizer que com as últimas as relações sejam, em sua maioria, de coação. Roger L. Taylor (TAYLOR, Roger L. Arte, inimiga do povo. São Paulo: Conrad, 2005) coloca que a arte deve ser rejeitada pela massa pois ela estabelece uma relação de domínio elitista. É necessário se criar um diálogo efetivo entre as diversas manifestações artísticas a fim de aproximar toda a sociedade e estabelecer um contato real. Porém para que se dêem tais relações é necessário considerar o contexto sociocultural em que estão dos indivíduos e suas bagagens culturais. Um caso exposto em um encontro sobre museus na atualidade exemplifica isso. Uma mulher que visitava o MASP pela primeira vez, ao se deparar com uma pintura de um pinheiro de Cézanne, impressiona-se muito e diz que aquela era a árvore da casa de sua avó. A discussão bastante acalourada visava entender até que ponto o externo (o peso de Cézanne na história da arte mundial) deveria ser levado para que pudesse acrescer às suas bagagens pessoais, pois não é possível deixá-las de lado, mas sem impor ou desconstruir um pensamento que ela já desenvolvera. Assim, ao contrário do que coloca Piaget, acredito que o contexto social deva ser considerado para que se estabeleçam menos relações de coação.
O contato com a teoria piagetiana foi de grande marco dentro dos meus estudo no curso de bacharelado e licenciatura em Artes Visuais no Instituto de Artes da Unicamp. Noto claramente hoje que não seria possível exercer um papel importante enquanto artista que pretendo ser se eu deixasse de lado a possibilidade de mudanças por meio da arte. Continuo a acreditar que trabalhos como Tilted Arc (1981) de Richard Serra sejam desequilibrações que o artista precisa, como o professor, provocar, porém, como é colocado por Piaget, tais desequilibrações muitas vezes precisam ser pequenas para que incitem o aluno/espectador e não retirem dele o desejo pelo conhecimento, intrínseco ao ser humano.

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