domingo, 15 de abril de 2012

Análise crítica do módulo de Jean Piaget

Piaget e alguns atritos na educação atual – um breve panorama

Guilherme Borelli      RA:117080

É fácil encontrar pessoas que reproduzam a consolidada frase: a educação é a base da sociedade. Grande parte de nós já ouviu isso, mas será que compreendemos o que isso realmente significa? Infelizmente, apesar de haver tal senso, não há uma aplicação verdadeira do conceito embutido na frase. O valor da educação está degradado e subestimado, tanto no tratamento teórico-prático dado a ela, quanto nos próprios envolvidos, professores e alunos, bem como nos pais, que, sem tempo de pensar, confiam a educação de seus filhos a modelos de ensino sem ao menos saber o que eles representam.
Sendo o ensino o grande motor da sociedade, fica fácil imaginar que hajam muitos pensadores que dedicaram seus esforços tentando compreender, se não seu processo, pontos que se aproximam dele. Um grande pensador encontrado na literatura e nos modelos escolares de ensino, é Jean Piaget.
Nascido na Suíça, no final do século XIX, Piaget teve uma trajetória no mínimo curiosa, com momentos de estudo voltados para biologia intercalados por um momento filosófico onde teve sua grande desilusão. Sua busca pelo entendimento dos processos de pensamento e como eles se tornam possíveis na medida em que há o desenvolvimento biológico do homem, geram um conceito revolucionário, o interacionismo. Até então, era aceito que os conhecimentos advinham, simplificadamente, de duas formas. Uma, vinha de dentro do sujeito, que nascia apto a desenvolver suas cognições e o fazia, apenas por ter tal capacidade (o apriorismo ou 'behaviorismo'). E a outra, porque o meio em que o sujeito estava inserido, o dava condições e até o forçava a se desenvolver, passando o conhecimento ao mesmo, apenas por este estar ali (o empirismo). Com o advento do pensamento interacionista embasado na recém-formada epistemologia psicogenética, foi possível criar um novo ponto de foco dos estudos, saindo do paradigma puro objeto ou sujeito e indo ao novo patamar, a interação do sujeito sobre o objeto.
Os estudos começaram e rapidamente se percebeu que um forte e visível momento onde ocorre a formação cognitiva do indivíduo, é na infância. Assim, começa um longo estudo com crianças, inclusive dentro de sua casa, pois Piaget faz uso de seus filhos com frequência, para compreender melhor seus resultados. É necessário, nesse momento que se faça uma observação. Piaget sempre teve foco no entendimento da formação do pensamento, por tanto, de forma global. Não era sua intenção criar qualquer modelo escolar ou desmembrar a infância a caráter de estudo. As crianças eram apenas seu modelo de entendimento, seus 'experimentos', pois nelas, era facilmente identificável os pontos questionados por ele.
No decorrer de suas obras, Jean Piaget vai destrinchando os acontecimentos para o 'nascer' do pensamento por ele denominado formal. Isso gera, de maneira quase automática a formação de uma 'escada' do desenvolvimento, onde são enumerados os conhecidos estágios do desenvolvimento: Sensório motor, Pré-operatório, Operatório concreto e Operatório formal. O grande ponto de apoio que eleva os sujeitos por essa escada é o desenvolvimento do raciocínio, embasado primariamente na imitação, seguido da linguagem e posteriormente da capacidade de abstração do indivíduo, permeados fortemente e até restringidos pela maturação biológica individual. Isso faz com que o raciocínio propriamente dito, para Piaget, seja um adquirido unidirecional e sem saltos pelos níveis, já que, para obter a ferramenta necessária ao próximo nível, é fundamental que já se tenha os pré-requisitos.
Surgem no decorrer de suas obras, conceitos para explicar os processos de obtenção do conhecimento. Como, por exemplo, acomodação e equilibração, que são os processos de questionamento do conhecimento já interiorizado e reestruturação das formas de raciocínio que vão gerar uma adaptação ao novo conhecimento, permitindo o adquirir. Tais conceitos vão culminar em uma ferramenta hoje utilizada em sala de aula que é o ensino reversível, onde o professor tenta, a partir dos esquemas mentais do aluno, passar o novo esquema a ser aprendido. Entra então mais um conceito, a equilibração majorante, que é desequilibrar os esquemas mentais do aluno numa medida em que isso não se torne massante ou assustador. E a partir do ponto em que é preciso dosar a desequilibração para não assustar, fica evidente que os sentimentos do aluno, interferem na aprendizagem, e mesmo a contragosto, Piaget se vê a obrigado a passar, ainda que rapidamente, pelo campo da afetividade.
Percebemos que há vários pontos interessantes e de fácil aplicação para a educação escolar. Talvez por isso, alguns leitores Piagetianos, tentaram criar um modelo escolar embasado em suas obras . O grande problema, é que a leitura superficial da real intenção de Piaget, levou a um arraigamento equivocado dos conceitos por ele propostos. Hoje, fala-se em Piaget com certo repúdio de sua 'teoria construtivista', que permite aos alunos fazer tudo do seu jeito, afinal, a interação com o meio é que dá o conhecimento, não importando o mediador (professor) e nem como isso é feito (certo ou errado). Certamente, uma leitura mais profunda, permitiria que fosse percebido o grande erro cometido, já que, Piaget jamais negou o papel da mediação, sequer criou uma teoria e não esteve interessado em arrumar o modelo escolar. Devemos nos prevenir de discursos falaciosos que empurram o construtivismo de maneira errônea para as salas de aulas, fazendo exatamente o que foi estudado por Piaget; adquirir um novo conhecimento e abandonar o esquema mental que temos do construtivismo atualmente.
Vale relembrar que Piaget foi revolucionário em sua época e que hoje, temos recursos de estudo do conhecimento inimagináveis naquele momento histórico. O advento dos supercomputadores, por exemplo, para estudos detalhados e mapeamentos cerebrais que permitem avaliar conceitos biológicos da aquisição do 'pensar', mostram caminhos que não eram possíveis antes. Será que é viável recauchutar o modelo construtivista para tentar melhorar a qualidade do ensino? Ou talvez devêssemos nos atentar a outros fatores, por hora esquecidos, como a massificação da cultura escolar, ou a propagação dessa cultura com os conceitos já caducos ainda fortemente fixos a ela. De qualquer forma, fica uma grande herança para estudos posteriores e profundos, ainda que muitos discordem, talvez por desconhecimento. Uma herança de grande valor, já explorada por alguns autores e deturpada por muitos outros.

Um comentário:

  1. Guilherme, parabéns!!! Que belo texto! Simples e esclarecedor. Como escreve bem! Estou muito orgulhosa de você... Foi meu aluno e, atualmente, tenho a oportunidade de chamá-lo de COLEGA! Sucesso sempre!
    Um abraço forte e carinhoso!
    Jerusa Toledo

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