segunda-feira, 9 de abril de 2012


 
Análise Crítica dos Estudos de Piaget sobre a Epistemologia Genética
Por: Alexandre Lisita RA:094620

O escopo da epistemologia genética é o desenvolvimento de uma teoria do conhecimento que possa explicar como o sujeito conhece o mundo. Dessa forma, o termo genética é empregado com o significado de gêneses, e não em seu sentido usual, que é o estudo dos genes e da forma como são transmitidos. Assim, a epistemologia genética tenta desvendar a origem do conhecimento, ou seja, os processos mentais utilizados para a resolução de problemas. Neste ponto Piaget (1896-1980) revolucionou, visto que, naquela época, o interesse principal dos psicólogos do desenvolvimento era a quantificação da inteligência por meio de testes padronizados, ao passo que Piaget buscava compreender o processo cognitivo feito pelas crianças para darem as respostas aos testes. Vale ressaltar que ele optou por estudar as crianças não por preferir a psicologia infantil, mas sim porque nessa faixa etária o conhecimento está em constante evolução e por isso seria mais fácil achar o padrão da construção do conhecimento.
Os princípios científicos adotados por Piaget para o estudo da epistemologia genética foram balizados pela sua primeira formação acadêmica, que foi a de biólogo. Como homem da ciência Piaget via-se obrigado a fazer experimentos que pudessem ser replicados por outros estudiosos. Exemplo disso é que ele era muito cauteloso na forma em que dirigia a suas entrevistas com as crianças, e ele exigia o mesmo cuidado de seus colaboradores, já que o entrevistador não poderia induzir a resposta do entrevistado.
Apesar de seu rigor cientifico ter trago um grande avanço para a psicologia, seus experimentos tinham uma dependência muito grande com a linguagem, dessa maneira acredito que a capacidade das crianças na fase pré-operacional (2 a 7anos) pode ter sido subestimado, visto que nessa idade elas possuem um vocabulário fraco, e não dominam a argumentação, pois são egocêntricas. O cenário é ainda pior no período sensório motor (0 a 2 anos), já que não é possível nenhum questionamento direto, podemos apenas utilizar da observação.
Para validar minha argumentação cito o professor de psicologia da Universidade de Yale Paul Bloon* que falou de estudos em que os bebês têm a capacidade de preferir algo, por exemplo, se colocarmos uma foto de um cão e outra de um gato diante deles será fácil notar qual eles gostam mais, pois eles desviaram o olhar para a foto que mais lhes agradam. O professor falou também de estudos em que os bebês demonstram características de sociabilidade, escolhendo pessoas favoritas em determinadas situações. As capacidades supracitadas não foram reportadas por Piaget, então, apesar de seu trabalho ser muito importante e extenso é necessário complementá-lo.
Com relação a epistemologia genética acredito que Piaget deixou de lado dois fatores que teriam muito a acrescentar – o fator social e cultural. Porque, apesar do sujeito herdar a capacidade para a equilibração, o seu pleno desenvolvimento está intimamente ligado as condições que o meio ambiente irá oferecer. Além disso, as conclusões de Piaget, especialmente com relação as fases de desenvolvimento, precisam ser atualizadas por consequência das novas tecnologias que geram novas formas possíveis de interação do ser como meio.
Creio que a contribuição mais importante de Piaget está na definição dos conceitos de assimilação, acomodação e equilibração, uma vez que estes explicam como se dá a construção do conhecimento. Resumidamente o que Piaget descobriu é que o sujeito deve atuar de uma forma ativa perante o meio para se desenvolver. Por conseguinte, tais conceitos deveriam impactar diretamente o sistema educacional de todos os países. Contudo, não é isso que acontece, no brasil, por exemplo, praticamente todo o sistema educacional desde a primeira série até o ensino superior é balizado por métodos em que o sujeito atua de uma forma passiva para construir seu conhecimento, isto é, o professor passa o conteúdo em sala de aula como se tudo soubesse, cabendo ao estudante memorizar o que é “ensinado”. Ora, isso é um absurdo! Piaget disse algo interessante sobre o assunto:
“ Podemos classificar a educação basicamente em duas categorias: a primeira é a educação passiva, que tem por base a memorização; a segunda é uma educação ativa que se baseia no entendimento e descoberta. Nosso problema é – qual o objetivo da educação? Nós estamos formando crianças que são somente capazes de aprender o que já é ensinado? Ou devemos tentar desenvolver mentes criativas e inovadoras capazes de descobrir em todos os períodos da vida?”
Outro ponto muito importante que foi abordado por Piaget e que deveria impactar diretamente o sistema educacional é a questão da afetividade e do juízo moral. No começo da vida os primeiros sentimentos morais são resultantes de um respeito unilateral da criança em relação aos país. Dessa forma, a criança vê-se obrigada a respeitar as regras pois alguém superior as criou, e não por causa dos princípios que regeram a formação das regras. Com o decorrer dos anos a criança passa a questionar as normas, e nesse momento a educação no brasil e muitas vezes a família falham. Acontece que esse é o momento para se ensinar os princípios, isso proporcionará uma visão mais global para a criança de como agir, já que nenhuma regra é soberana, ou seja, em dadas situações qualquer regra é passível de ser desrespeitada. Mais importante ainda é que este é o momento para que a criança entenda a importância de seguir as normas, visto que sem elas o bem-estar social fica comprometido.
Apesar de ter como objetivo o entendimento da origem do conhecimento a obra de Piaget trouxe grandes resultados que poderiam ser utilizados na educação, claro que não diretamente uma vez que não existe um método piagetiano de ensino. O que Piaget fez foi descobrir os princípios que norteiam a construção do conhecimento, agora cabe aos educadores estudarem maneiras de tornar viável um sistema de ensino guiado por tais princípios. Acredito que Piaget fez um trabalho fantástico, mas por dispor de apenas 24h por dia ele teve que priorizar algumas áreas de pesquisa, e por isso, ao meu ver, seu trabalho ficou incompleto em algumas partes, todavia isso não diminuí a importância dos estudos que ele realizou.



*Citação tirada dessa página: http://oyc.yale.edu/psychology/psyc-110/lecture-5. Essa aula faz parte do Open Yale Courses, um programa que visa proporcionar a qualquer pessoa do mundo o acesso a algumas aulas ministrada na Universidade de Yale.


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