quarta-feira, 11 de abril de 2012

Análise Crítica sobre Piaget


(Des) construindo Piaget

Camila Vieira Soler - RA101773

Jean Piaget (1896-1980) era um estudioso das ciências. Interessou-se pela religião, filosofia, biologia, sociologia e psicologia. Unindo todos os campos que estudou, Piaget influenciou fundamentalmente o modelo educacional, tal como conhecemos.  Ao estudar psicologia, no século XIX, Piaget passou a investigar a origem e estrutura do pensamento para a formação do conhecimento. O estudo do processo de formação de conhecimento é nomeado por Piaget como Epistemologia Genética, e definido como “estudo da passagem dos estados inferiores do conhecimento aos estados mais complexos ou rigorosos”.
Embora seja classificada como interacionista, a obra de Piaget demonstra que seus estudos foram compartimentalizados. São trabalhados diferentes aspectos, no entanto, no momento em que se atentava para determinada área da ciência, como sociologia, ou biologia, as demais eram esquecidas. Nota-se, portanto, que sua obra é focada em áreas que interagem, mas é pouco trabalhada a forma como ocorre a interação entre elas.
Para Piaget, a inteligência é pré-formada e o meio passa a interagir com ela, que o utiliza para se desenvolver como linguagem e, posteriormente, como expressão pela linguagem. A linguagem e o pensamento são, portanto, indissociáveis e, o desenvolvimento de ambos ocorre simultaneamente, já que um se baseia no outro.
Piaget classificou diferentes níveis de formação do conhecimento em estágios separados por faixa etária. O período sensório-motor compreende de 0 a 2 anos de idade, o pré-operacional de 2 a 7 anos, o operacional concreto dos 7 aos 12 e o operacional formal da adolescência à idade adulta, sendo que algumas pessoas podem nunca atingir esse nível.
O problema em dividir o desenvolvimento em faixas etárias é que existem variações muito evidentes dependendo de cada individuo, e acredito que Piaget não tenha dado a importância merecida a esse aspecto, mesmo sendo um estudioso que valorizou tanto o desenvolvimento do indivíduo dentro do sujeito, talvez porque essa variação própria de cada sujeito não depende apenas do biológico, tão valorizado por Piaget, mas da interação desse sujeito com o objeto e o outro. À parte a classificação taxativa de faixas etárias, em que o próprio autor admite poder haver variações, alguns conceitos são muito bem trabalhados e Piaget merece todo o crédito por eles.
Estudando egocentrismo, Piaget encontrou duas variações: o egocentrismo na infância, em que a criança não tem consciência do outro e vê até mesmo os objetos ao seu redor como extensão dela mesma e por isso é egocêntrica, e o egocentrismo da adolescência, em que o individuo já adquiriu consciência do outro, já consegue abstrair sobre diversos aspectos e assuntos e, justamente por ter consciência da abstração que adquiriu, dá para si mesmo uma valorização superior à que dá ao outro.
Estudando a inteligência, classifica três estágios na formação do conhecimento: Assimilação, Acomodação e Equilibração. Assimilação seria a percepção das coisas, a absorção das informações. Acomodação seria a reação a um estímulo externo, a modificação dos esquemas de assimilação. Equilibração é a adaptação do sujeito entre os dois mecanismos anteriores. É importante ressaltar que a equilibração não é estática, mas um processo ativo e dinâmico e está sujeita a estímulos externos que provocarão nova acomodação, nova assimilação e nova equilibração, para Piaget é importante o papel do outro para causar o desequilíbrio e manter a dinâmica do processo de aprendizagem.
Piaget interaciona o desenvolvimento intelectual com a afetividade, e essa com o juízo moral. Para que ocorra o desenvolvimento intelectual são necessários os componentes cognitivos e afetivos, sendo que o cognitivo é formado ao longo de todos os estágios já discutidos, e a afetividade também é desenvolvida em etapas relacionadas ao desenvolvimento da moralidade. O desenvolvimento moral pode ocorrer durante toda a vida do individuo e se divide em três etapas tanto da razão quanto da afetividade: a anomia, em que a criança age por hábito, sem ter a mínima consciência do porquê, visando apenas seu auto interesse, coincidindo com o período de egocentrismo infantil, a heteronomia, em que o sujeito age por dever, pois tem consciência da autoridade do outro e, no campo da afetividade, é estimulado tanto por empatia quanto por medo (e essa fase pode durar apenas a infância, a adolescência ou se prolongar pela vida adulta) e a autonomia, em que as regras são legitimadas e a ação é embasada em confiança e respeito mútuo.  O desenvolvimento da moralidade no indivíduo ocorre, portanto, em três níveis: A aceitação das regras, o entendimento dos princípios e a incorporação dos valores que regem a sociedade.
Quanto às implicações educacionais, a obra piagetiana é essencial no que diz respeito ao papel do outro em provocar desequilíbrios para promover o aprendizado, embora a forma como essa desequilibração ocorra possa variar pela influência do professor sobre o aluno, da empatia ao medo, da coerção à cooperação. No entanto, é fundamental que se tenha cuidado na aplicabilidade dos conceitos piagetianos para não se focar apenas em um problema sem observa-lo como um todo, como consequência da interação de diversos fatores que influenciam no desenvolvimento do sujeito e ficam evidenciados nas suas ações.

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