quarta-feira, 11 de abril de 2012


Piaget, engenheiro do conhecimento.
                                       André Martins de Araújo 084275
               
Não é coincidência que a obra de Piaget se estendeu pelas mais diversas áreas de estudo do homem. A Epistemologia Genética, dado a sua amplitude e multiplicidade em conexões com outras áreas do conhecimento, foi considerada como um pilar para os estudos do Instituto Jean-Jaques Rosseau em Genebra, Suíça. Foi lá que Piaget aplicou seu método para estudar as estruturas do conhecimento, para isso observava o desenvolvimento da criança e a partir dai organizou em períodos todo o processo de formação das capacidades cognitivas, por isso teve profunda influência na pedagogia e foi estudado por uma série de pedagogos pelo mundo, inclusive no Brasil, em Minas Gerais, onde Helena Antipoff¹, que participou do seu grupo de estudos na Suíça, desenvolveu seus estudos em crianças deficientes se baseando na obra do autor.
            A epistemologia, como se sabe, é a ciência do conhecimento, nela se investiga as maneiras e ato de como conhecemos. Piaget, com a epistemologia genética, busca as origens desse conhecimento e para tal analisa como isso se dá na criança ao contrário da tradicional epistemologia que estuda o conhecimento em outras relações e outros níveis. A sua obra, de referência kantiana, busca, além da origem, uma estrutura comum a todos indivíduos, ou seja, uma estrutura primordial do conhecimento. Como se pode notar, também, ao longo da sua argumentação, existe uma preocupação, muito comum para sua época, em dar para sua teoria uma exatidão- como nas ciências naturais- de modo que ela possa ser aplicável a qualquer sujeito; de onde se possa tirar uma técnica. A ideia da criação de um esquema de assimilação mental, inspirada em modelos matemáticos mostra isso.
 Pode-se dizer que o ‘construtivismo’, enquanto prática pedagógica é a realização da intenção teórica de Piaget. No entanto como toda técnica voltada ao homem, à formação do homem, ela sofreu diversas críticas, principalmente do ponto de vista da relação da criança com o meio social. Essa crítica se pauta pela falta de importância que o autor dá em suas análises na interação da criança as relações sociais, apesar de considerá-las superficialmente. Em seus textos, como observamos, toda a ação cognitiva parte do individuo e esta ação está baseada em elementos biológicos e neurológicos que são herdados e, por sua vez, os processos internos e aquisição de conhecimento levam a estruturação das formas já estabelecidas hereditariamente. Mas, mesmo assim, o construtivismo nunca deixou de colher resultados inspiradores e de fundamentar uma série de outros estudos voltados, principalmente, à educação infantil.
 O método de Piaget consiste em analisar o desenvolvimento da criança desde o nascimento até a adolescência. Isso ocorre em quatro fases principais: o sensório motor no período de 0 a 2 anos; o pré-operátorio de 2 a 7 anos; o operatório concreto de 7 a 11 anos; e operatório formal de 11 a 15 anos. Na sua teoria nota-se também a influência da formação em biologia, já que considera a inteligência como uma adaptação biológica. Aqui pode se notar, também, suas raízes positivistas. De um modo geral essa divisão mostra como se desenvolve a inteligência sem desconsiderar a formação da afetividade e da moralidade, pois, segundo ele todos os processos se dão de maneira simultânea. Os processos e que caracterizam toda a passagem dentre as fases são : a assimilação, na qual se recebe as informações para apropriação do conhecimento; a acomodação, onde a criança organiza suas estruturas cognitivas para se adequar ao novo conhecimento.  Tudo para chegar à estabilidade da organização mental, terminologicamente chamada de equilíbrio. Também possui papel central nessa teoria do desenvolvimento a noção de egocentrismo, que no interior da epistemologia genética significa “a capacidade da criança de considerar a realidade externa e os objetos como diferentes de si mesma e de um ponto de vista diverso do seu” ².O egocentrismo possui diversas implicações na obra quando se considera, por exemplo, o raciocínio lógico, a construção da linguagem e do mundo objetivo; vê-se que apenas com o distanciamento dessa centração é possível se alcançar ao estágio da lógica operacional já no final dessa fase de desenvolvimento. Como afirmam seus comentadores, é no jogo simbólico que o egocentrismo se manifesta com total clareza, pois na brincadeira estão incluídas as maneiras como a criança dá significado às coisas evidenciando seus desejos, conflitos, ou seja, “transforma o real ao sabor de sua fantasia”.
A afetividade e a moralidade são vistas por Piaget como parte integrante desse movimento de formação da cognição.  Como estão ligadas, o autor afirma que não há ação puramente intelectual, ou seja, uma ação tem tanto seu lado afetivo/moral como intelectual/racional. Dessa forma os interesses, os valores, a moral e os afetos são constituídos no mesmo momento que a criança desenvolve sua cognição, ou seja, a cognição tem seu filtro mora que é refletida nas ações e nas escolhas da criança. Nesse ponto da teoria é que vemos um estreitamento maior com as relações sociais, já que para se ter uma formação moral é necessário o contato com quem pratique essa moral.
Como dito, a teoria de Piaget teve grande influência em diversas outras pedagogias. Ao longo do tempo e até hoje uma série de escolas aplicam sua teoria e colhem ótimos resultado no que diz respeito à integração da criança e a relação que ela terá com conhecimento. Em cada uma das fases edifica-se um novo estágio do conhecimento em que outras ações serão definidas em diversos aspectos desde a linguagem, passando pelo raciocínio, até a moralidade. Piaget em sua obra nos mostra a maneira como a criança se desenvolve, criando seus alicerces para as novas formas de aquisição do conhecimento que virão. Em contraponto a muitas outras teorias do desenvolvimento e por suas inovações, principalmente quanto ao método utilizado, a obra de Piaget atravessa o tempo e ainda se situa enquanto base para os estudos da formação do homem.

¹ foi um psicóloga e pedagoga de origem russa que depois de obter formação universitária na Rússia, Paris e Genebra, se fixou no Brasil a partir de 1929, a convite do governo do estado de Minas Gerais, no contexto da operacionalização da reforma de ensino conhecida como Reforma Francisco Campos-Mário Casassanta. Grande pesquisadora e educadora da criança portadora de deficiência. (fonte: Wikipedia).
² Coleção: Os Pensadores- Piaget. Vida e Obra. Pg X. São Paulo 1978.

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