segunda-feira, 4 de junho de 2012


Antítese e síntese de Lev Vigotsky.
                                       André Martins de Araújo 084275
               
Em meados do séc. XIX, as ciências humanas passavam por um momento em que se consolidavam paradigmas que determinariam o rumo e o caráter desses conhecimentos acerca do ser humano(a), tanto em sociedade quanto à nível psicológico, psíquico e cognitivo. Em meio a esse movimento, a psicologia nos chama a atenção, pois nela encontramos um fecundo terreno de possibilidades de conhecimento sobre o homem e também, como é de nosso interesse para esse texto, possui forte relação com desenvolvimento da pedagogia.
Dentre os psicólogos que tiveram proeminência, dado completude e aplicabilidade de suas teorias, Levy Vigotsky teve destaque principalmente por integrar à sua visão científica a dialética marxista e o pensamento spinoziano. Como era comum para os estudiosos dessa área, o psicólogo russo também colhe dados em experiências com crianças fazendo uma discussão profunda com muitos pensadores da incipiente ciência psicológica. Como dito, o estudo do marxismo e a paixão pela arte foram centrais para colocar Vigotsky como um psicólogo de destaque e que, por isso, ainda possui forte incidência sobre a pedagogia.
A influência marxista no pensamento do psicólogo também pode ser vista como principal diferença em relação à obra de Piaget. Para ele as formas mais elevadas de comportamento consciente são diretamente relacionadas às relações sociais em que o sujeito está presente, tanto na recepção, quanto na produção do meio social. (LURIA. A. R, LONTIEV, 2001). Vale ressaltar que toda teoria sobre o desenvolvimento da criança de Piaget não considera o sujeito como um agente criador das relações sociais e em poucos casos inclui as relações sociais como parte relevante no processo de desenvolvimento cognitivo.
De Spinoza, Vigotsky carrega a importância que o filósofo dá para as emoções em sua ontologia. Ao contrário do materialismo darwinista, Spinoza considera que o homem possui uma perseverança, um esforço de resistência e conservação, que ele chama de conatus, porém, a ideia de conatus não é essencialista, ou seja, não é uma tendência natural que age isoladamente e muito menos é inata, mas necessita dos afetos, que são determinados pela intersubjetividade e sofrem alterações ao longo do tempo. A ideia de afeto, também está ligada ao campo ético, já que é um fundamento do ser e é constituído socialmente. Por estar ligado à ética, também está ligado à liberdade, pois é na determinação do ethos que se encontram nossas escolhas, nossa maneira de agir e pensar sobre o mundo, que por sua vez, como dito, possuem correspondência com os afetos. (SAWAIA, B. B, 2010).  
Todos esses aspectos incidem na teoria de Vigotsky formando um todo coerente. Nota-se a relevância da liberdade e das emoções, campos que são levados fortemente em consideração em uma teoria que pensa de fato o ser em sua formação, pontuando em aspectos tanto sociais como políticos e psicológicos.
De sua teoria o que podemos ressaltar de mais relevante e que condiz com os elementos que mostramos é o conceito da zona de desenvolvimento proximal que condensa todos os aspectos mencionados. O aprendizado da criança segundo a obra do psicólogo se dá em dois aspectos o real e o potencial. Basicamente esses níveis pontuam a capacidade de desenvolvimento que uma criança tem. Assim o desenvolvimento potencial mostra a capacidade de realizar tarefas com ajuda de outros, enquanto o desenvolvimento real mostra a capacidade que uma criança tem de realizar tarefas sozinhas. Sobre esses aspectos notamos que “O desenvolvimento individual se dá num ambiente social determinado e a relação com o outro, nas diversas esferas e níveis de atividade humana, é essencial para o processo de construção do ser psicológico individual”. (OLIVEIRA, p. 60, 1997). A zona de desenvolvimento potencial é, portanto, parafraseando Vigotsky, o espaço entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial, que estão incluídos os saberes que a criança já carrega consigo, e os saberes que dependem de outros membros mais experientes da sociedade para que sejam assimilados. Daí pode-se mencionar, então, a importância dos espaços de educação- que não são necessariamente a escola- para o aprendizado da criança e, a partir de um olhar mais libertário, para uma construção coletiva do conhecimento e da cultura.
Como dito, Spinoza influenciou largamente a teoria de Vigotsky, principalmente com relação ao envolvimento dos afetos na formação da criança. A ideia de um desenvolvimento dado em sociedade e intrinsecamente ligado ao desenvolvimento dela própria remonta a concepção dialética marxista. Essas relações mostram um caráter profundamente político da teoria do psicólogo e que contribui para que sejam pensadas, a partir delas novas possibilidades de relações de ensino-aprendizagem, para além de uma mera instrução e disciplinarização dos membros da nossa sociedade.

OLIVEIRA, M.K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. SP: Scipione, 1997.
LURIA, A.R.; LEONTIEV, A.N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. SP: Ícone, 2001.
SAWAIA, Bader Burihan. Psicologia e Desigualdade Social: Uma reflexão sobre liberdade e transformação social-  Psicologia & Sociedade- PUC- SP, 2009.


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