segunda-feira, 4 de junho de 2012



Vygotsky, Wallon e o papel da escola 

Aline Giroux RA: 115984
     
       Lev Vygotsky e Henri Wallon são autores que, diferentemente de Jean Piaget, se voltaram mais especificamente para a questão educacional e deram grande ênfase aos marginalizados. Enquanto Vygotsky se destacou por acreditar na capacidade de aprender de todos, a partir de uma mediação adequada, Wallon se destacou por ver na educação uma possibilidade de transformação social. Ambos têm influência marxista e ,não por acaso, dão grande importância ao social, defendendo a ideia de que o meio cultural de que o indivíduo dispõe para se desenvolver tem uma enorme importância nesse desenvolvimento. Do ponto de vista escolar, esses autores dão grande importância á escola e á qualidade da mediação que ela oferece para o desenvolvimento do sujeito. 
           Esse texto visa uma breve análise crítica de algumas das ideias centrais do pensamento Vygotskyano e Walloniano, tendo como foco principal as implicações educacionais, mas precisamente ligadas ao papel da escola, do pensamento desses dois autores.
          Um conceito central da teoria Vygotskyana é o de zona de desenvolvimento proximal (ZDP). A ideia de Vygotsky de que a boa intervenção deve ser feita no sentido de explorar aquilo que o sujeito ainda não consegue fazer sozinho, e sim com ajuda, trás uma nova visão do papel do professor. Seria, nesse caso, papel do professor identificar as ZDP dos seus alunos e só então intervir? Acredito que não. Uma vez que a intervenção desloca a ZDP para um desenvolvimento real e tráz a tona uma nova ZDP , conclui-se que ela é extremamente dinâmica e que se trata de um aspecto micro da cognição, ou seja, para cada pequeno conceito ou problema apresentado, haverá uma ZDP  diferente em cada aluno, em um determinado momento. O que fazer então? Obviamente é importante que o professor busque "sentir" se a maior parte da turma está acompanhando seu raciocínio e reserve pequenos momentos para dar maior atenção áqueles que estão tendo maior dificuldade, porém acredito que é fundamental criar um ambiente heterogêneo, em que haja momentos para interação, onde os alunos estarão constantemente ajudando uns aos outros. Dessa maneira, a ideia de Vygotsky e Wallon de que ambientes heterogêneos são mais ricos para o desenvolvimento do sujeito me parece extremamente válida. 
          Vygotsky dá uma nova interpretação para a "fala egocêntrica" de Piaget. Segundo Vigotsky a criança que, no início do desenvolvimento, fala apenas para balizar seu pensamento, sem intenção de se comunicar,  o faz por que ainda não consegue se diferenciar do mundo, sendo, portanto, completamente social. Á medida que o indivíduo se individualiza dos outros e do meio, ele busca, cada vez mais, a comunicação. Segundo Wallon, esse processo de individualização se daria com a negação do outro. Partindo desse ponto, podemos ver a desesperada busca pelo silêncio na sala de aula, principalmente nas séries primárias, como um entrave ao aprendizado. Uma vez que a criança necessita da verbalização para pensar sobre um problema, tornando- o concreto, pedir que a criança fique calada o tempo inteiro seria o mesmo que pedi-la para não pensar! Portanto, um ambiente aparentemente desordenado, onde as crianças falariam livremente e interagiriam umas com as outras, seria mais rico para proporcionar o aprendizado do que aquele encontrado em escolas militares, por exemplo. Mas onde fica o professor no meio dessa "bagunça"? Como fazer com que crianças "livres" se atenham ao que estar sendo ensinado? A proposta, novamente, é que haja momentos de interação e momentos de disciplina, em que o professor irá balizar as tarefas e estabelecer metas. Além disso, é de extrema importância que o professor estimule os alunos e desperte neles vontade de aprender. Não esqueçamos, ainda, que, desse ponto de vista, certos momentos de rebeldia do aluno podem ser visto como necessários para a construção da sua individualidade. Caberia ao professor, então, agir normalmente diante dessas rebeldias, e não entendê-las como afronta? E como indentificar quando realmente se tratar de uma afronta? Como manter uma posição de respeito em sala de aula e, ao mesmo tempo, lidar naturalmente com essas rebeldias? Sem dúvida, é uma questão extremamente complicada.
         Um ponto central da teoria Walloniana é a concepção do sujeito como um todo e a consequente indissociação entre o sujeito racional e o sujeito emocional. Wallon observa de maneira integrada os diversos campos funcionais do sujeito (movimento, afetividade e inteligência), que , juntos, farão do indivíduo uma pessoa completa. Suas ideias podem ser vistas como uma crítica aos sistemas de ensino e avaliação atuais, que super-valorizam a inteligência em detrimento dos outros campos funcionais do sujeito.
Dessa forma, é papel da escola desenvolver o sujeito em seus diferentes campos funcionais. Mas é possível fazer isso e ao mesmo tempo preparar o aluno para um sistema de avaliação que super-valoriza a inteligência? A experiência mostra que sim! Já existem escolas particulares que buscam um desenvolvimento integrado do indivíduo, e seus alunos não são menos aprovados no vestibular por isso.
         Wallon também inova, em relação á Vygotsky, quando, ao defender a importância de um espaço escolar heterogêneo, enfatiza a ideia de que faz parte das capacidades do sujeito se portar diferente em diferentes contextos e que essa capacidade deve ser explorada. Mais do que estimulando a heterogeneidade do ambiente escolar, Wallon está desestruturando a tão enraizada ideia de que para a criança ter bom desempenho escolar, ela precisa necessariamente ter uma "boa estrutura familiar". Portanto, a escola deve sim tentar dar apoio emocional á criança em momentos de crise familiar, mas nem por isso julgá-la menos capaz de aprender e se desenvolver.
          Uma questão que não pode ser esquecida, abordada tanto por Vygotsky quanto por Wallon, é a importância da brincadeira no processo de aprendizagem. Para Vygotsky, o desenho é o desenvolvimento da capacidade de representação do indivíduo, e evolui de tal forma que o individuo passa a representar não apenas objetos e ações, mas também a linguagem, através da escrita. Para Wallon, a brincadeira de faz de conta é essencial não apenas por proporcionar ao sujeito a ocupação de lugares sociais diferentes daqueles que ele ocupa normalmente, mas também por proporcionar a consciência de si a partir da incorporação do outro. Vygotsky também dá ênfase á importância do brinquedo como objeto de aprendizagem,  principalmente na fase do "pensar concreto". Dessa forma, fica claro que o professor deve se aproveitar de momentos de brincadeira para desencadear na criança um desenvolvimento maior do que aquele que ela teria apenas brincando, sem nenhuma mediação. Deve, também, fornecer ás crianças objetos de aprendizagem que auxiliem e impulsionem esse processo.
            A validade dos pensamentos Walloniano e Vygotskyano e das suas implicações para a construção da escola como ambiente de desenvolvimento é inegável. Não quero dizer com isso que essas teorias são indiscutíveis, pelo contrário, quero dizer que elas são fundamentais para pensarmos em uma educação melhor (mais completa, mais inclusiva...), tanto como futuros educadores, quanto como cidadãos. O social tem grande importância na constituição do sujeito sim, mas o sujeito, por sua vez, é força motriz na transformação do social.

            Bibliografia:
-Oliveira, M. K. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico – São Paulo: Scipione, 1997 – (Pensamento e ação no magistério)
-Vygotsky, L. S. Pensamento e Linguagem. Tradução: Jefferson Luiz Camargo: revisão técnica José Cipolla Neto. – 2ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1998
-Almeida, L.R. – Wallon e a Educação. In: Henri Wallon – Psicologia e Educação

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