sexta-feira, 25 de maio de 2012

Análise Crítica* Perspectiva histórico-cultural e as implicações educacionais


 Vigotski e Wallon: o sujeito-mundo

Thaís Tiemi da S. Yamasaki  R.A 120191

        Estendo-me diante de L. Vigotski e H. Wallon, dois grandes autores representantes da perspectiva histórico-cultural, com o objetivo de observar e confrontar certos aspectos do desenvolvimento humano diante da aprendizagem alvitrando liames entre tais conjecturas de modo a extrair destas, contribuições para a Educação.
A meu ver, a genialidade de tais autores está na busca da diferença, das pessoas menos favorecidas. Wallon aprofunda seus estudos na psicogênese da pessoa completa (social/dialética), enquanto Vigotski abrange a relação entre sujeito e mundo. Por um lado, temos a idéia de Wallon de que a criança é o estado de socialização máxima e que conforme vai crescendo, sofre o processo de individuação, por outro, temos Vigotski e a concepção de que a criança sofre processo de socialização. Mas, acho que não há como separar tais visões. Pois sujeito e sociedade, desde o nascimento da criança, já estão em intensa amálgama. Creio que somos formados pela alteridade, somos iguais e simultaneamente diferentes. Como postula Vigotski, quando nascemos, chegamos a um mundo já dotado de ideologias, cultura etc; assim possuímos coisas em comum. Apropriamo-nos de certos elementos e desta forma nos diferenciamos. Só somos individuais se formos sociais e para sermos individuais, precisamos ser sociais. Wallon aborda a questão sobre como se dá a consciência de si, achei deveras interessante a idéia de que as crianças precisam se opor aos “outros”, precisam do confronto para se definir, fazendo imitação ou a negação. Por outro viés, Vigotski infere grande importância à heterogeneidade, quanto maior esta seja, melhor é a formação do Homem, o que acaba encaixando-se na teoria walloniana. Sendo assim, o professor tem grandiosa importância na formação do sujeito. O docente é mediador de determinada parcela da cultura, é um espelho fragmentado da sociedade. Concordo com Vigotski, quanto à ideia de que a socialização/constituição do sujeito se dá através da linguagem. A língua reflete o Homem, o Homem se constrói/estrutura o pensamento a partir da língua (e isso nos diferencia dos animais). Apoio tal concepção, acredito que não haveria mundo sem a linguagem, pois já a própria linguagem cria o que é mundo, de fato. Por exemplo, a própria noção do “eu”, é na língua que nos definimos como sujeitos, antes da aquisição da linguagem, não sabemos o que vem a ser “eu”. A partir do momento que conhecemos e aceitamos a existência do “eu” estamos pressupondo a existência de um “outro”.  Wallon divide o ser humano a partir de campos funcionais, o que achei inovador, pois inclui o “movimento” como importante para o desenvolvimento. Mas, postula estágios, eu realmente sou avessa à divisão do desenvolvimento humano em níveis. As noções de sincretismo presente na criança, ou seja, quando esta enxerga o mundo com confusão (mistura as coisas) e de pensamento categorial (divide as coisas) numa idade mais avançada realmente encaixam-se com a concepção de que conforme vai crescendo, tendo contato com os outros, a criança vai diferenciando o mundo e assim constituindo-se enquanto sujeito. Critico a teoria de Piaget, que toma como foco o que o aluno já possui. Penso que o ser humano tem capacidade de ir além de estágios já definidos, como esclarece Vigotski, através da noção de zona de desenvolvimento proximal, a qual corresponde às funções que ainda não amadureceram. Nas palavras do próprio autor:

O nível de desenvolvimento real caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento mental prospectivamente. (Vigotski, 1998a, p.113)

 Vigotski não fala de determinação social, mas sim de influência social. Não somos determinados pelo meio, somos influenciados, decidimos se aceitamos ou não tal influência.

No desenvolvimento, a imitação e o ensino desempenham um papel de primeira importância. Põem em evidência as qualidades especificamente humanas do cérebro e conduzem a criança a atingir novos níveis de desenvolvimento. A criança fará amanhã sozinha o que hoje é capaz de fazer em cooperação. Por conseguinte, o único tipo correto de pedagogia é aquele que avança relativamente ao desenvolvimento e que o guia; deve ter por objetivo não as funções maduras, mas as funções em vias de maturação. (Vigotski, 1998b, p. 179)

Enfim, a meu ver, as implicações educacionais da perspectiva histórico-cultural podem ter grande eficácia. É preciso não apenas considerar a heterogeneidade, mas também criá-la, utilizá-la como algo imprescindível para a constituição do sujeito. Bem como, devemos visualizar o sujeito como pessoa completa, em constante conflito entre razão e emoção. Afetividade e diferença podem ser uma excelente combinação, em sala de aula.

Referência Bibliográfica
DANTAS, P. Para Conhecer Wallon: Uma Psicologia Dialética. Ed. Brasiliense, S. Paulo, 1983.
OLIVEIRA, M.K. Vigotski: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. SP: Scipione, 1997.
LA TAILLE, YVES DE; OLIVEIRA, MARTA KOHL DE.  Piaget, Vygotsky,  Wallon :  teorias psicogenéticas em discussão.  São Paulo : Summus, 1992.
MAHONEY, A.A.; ALMEIDA, L.R. (orgs). Henri Wallon: Psicologia e Educação. 3ª. Ed.SP: Loyola, 2003.
VIGOTSKI, L.S. A formação social da mente. 6ª. ed. SP: Martins Fontes, 1998. (a)
__________.Pensamento e Linguagem. SP: Martins Fontes, 1998. (b)
__________. O desenvolvimento psicológico na infância. SP: Martins Fontes, 1999

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