terça-feira, 29 de maio de 2012

Análise crítica da teoria sócio-histórica (Vygotsky e Wallon)

Importância das teorias de Vygotsky e Wallon para o ensino   

Daniela Bueno Gomes de Melo     RA 119283
Lev Vygotski nasceu em 5 de novembro de 1896 numa cidade chamada Orsha que fica na Rússia e morreu em 1934. Possuía uma ampla formação nas áreas de Direito, História, Filosofia e Psicologia, as quais contribuíram para a formação de suas teorias relacionadas ao desenvolvimento dos processos psicológicos do homem e sua transformação de um ser biológico para um ser social e cultural, de acordo com Oliveira.
            Um dos conceitos mais interessantes apresentados por Vygotsky é o conceito de zona de desenvolvimento proximal, a qual se encontraria entre o nível de desenvolvimento real, onde a criança já consegue sozinha realizar tarefas, e o nível de desenvolvimento potencial, onde através da ajuda de um individuo, a criança se torna capaz de aprender algo e, consequentemente realizar a tarefa de forma independente. (OLIVEIRA, 1997). Através desse conceito é possível perceber a importância que Vygotsky deu ao papel do outro na aprendizagem da criança. Além disso, diferentemente de Piaget, que acreditava que para aprender é necessário se desenvolver e que a criança carrega consigo a capacidade de aprender, Vygotsky pensa, sem negar o biológico do indivíduo, que o desenvolvimento é consequência da aprendizagem, e esta, por sua vez, acontece por meio da intervenção social, ou seja, um livro, brinquedo, jogos ou uma pessoa. A partir disso, percebe-se a importância da escola na vivência da criança para se desenvolver, pois ela pode fornecer muitos requisitos que servirão de mediação para aprendizagem da criança, que muitas vezes, não são encontrados no ambiente familiar.    
            Oliveira relata que para Vygotsky a mediação da cultura e de uma pessoa é muito importante para a criança aprender, pois se a criança não conviver com a sociedade, ela nunca irá desenvolver a aprendizagem da escrita ou da linguagem, sendo essas formas de comunicação criadas culturalmente, e isso pode ser observado claramente com o personagem Kaspar Houser do filme “O Enigma de Kaspar Houser”. Enquanto vivia trancado na torre não tendo contato com o mundo social, não sabia usar a linguagem e muito menos a escrita. A partir do momento em que começou a conviver com uma sociedade e tinha um mediador que o ajudava a aprender e entender as coisas é que ele desenvolveu, principalmente, seu pensamento através da linguagem.     
           
Segundo Oliveira, as ideias de Vygotsky sobre o surgimento do pensamento verbal e da linguagem como códigos sociais “é um momento crucial no desenvolvimento da espécie humana, momento em que o biológico transforma-se no sócio-histórico” (OLIVEIRA, 1997). Acredito ser essa ideia de Vygotsky uma das mais importantes para analisar o desenvolvimento do homem e a importância da cultura social.
            Por todos esses aspectos, é interessante destacar a relevância de uma boa qualidade de ensino atuando na zona de desenvolvimento proximal para que o aluno consiga se desenvolver e aprender da melhor maneira possível, principalmente utilizando sua capacidade de raciocínio e lógica. Nas escolas públicas, muitas vezes não observamos a situação em que o professor força o raciocínio nos alunos, ajudando-os através de pistas ou associações sem apresentar o resultado final. Não é a toa que a “matemática” é uma das disciplinas na qual os alunos possuem mais defasagem de ensino, por falta da qualidade do mediador.
            Henri Wallon, nascido em 1879, foi outro pensador que se especializou em áreas da psicologia. De acordo com Dantas, Wallon estudou o comportamento emocional e como o ser humano possui consciência de si. Sua teoria é marcada por estágios de desenvolvimento, assim como a de Piaget, no entanto, o que os diferencia é que Wallon considera também o papel da sociedade no desenvolvimento humano, como Vygotsky. Além disso, os estágios são flexíveis e não seguem uma ordem linear, pois são balizados por aspectos sociais.
            Os estágios de desenvolvimento da criança, que se encontram no livro “L’enfant turbulent: etude sur retards et les anomalies du dévelopment moteur et mental” de Wallon são cinco: o primeiro é o “Impulsivo-emocional (até 1 ano)” onde tem maior predominância da afetividade; o segundo é o “Sensório-Motor e Projetivo”, no qual a criança de 2 a 3 anos explora o ambiente pela motricidade, não havendo predominância das emoções, e sim, da cognição; o terceiro estágio (3 a 6 anos) é o “Personalismo” onde há formação da personalidade. Por meio das interações sociais a criança cria consciência de si e há predominância da emoção; o quarto estágio é o “Categorial” (6 anos até o início da adolescência). Nesse estágio há o predomínio da inteligência e a afetividade se torna equilibrada; o quinto estágio é o da “Adolescência” onde o indivíduo se depara com questões morais e há a fuga de aspectos infantis, além disso, a afetividade é muito presente nesse estágio. 
            Esses estágios podem ser considerados importantes para atuação do educador, pois segundo Almeida, “a teoria walloniana enfatiza o aproveitamento das possibilidades de cada fase de desenvolvimento. Para isso, sugere a utilização de procedimentos pedagógicos diversificados para cada idade de formação, considerando que as formas de pensamento e de afetividade diferem conforme os estágios” (ALMEIDA, p. 77).        
            Percebe-se que Vygotsky e Wallon contribuíram muito para questões pedagógicas através de suas teorias, as quais parecem se completar, pois enquanto Vygotsky diz que o mediador deve atuar na zona de desenvolvimento proximal, Wallon sugere que o educador precisa levar em consideração o estágio em que se encontra a criança para saber qual a forma mais eficaz de atuar na zona de desenvolvimento proximal. Além disso, é importante que o educador conheça cada teoria para que o par ensino/aprendizagem seja realizado da melhor maneira possível nos ambientes escolares, considerando que cada criança é única e se relaciona com a cultura de forma diferente.    
Referências Bibliográficas
- Vygotsky, L. S. Pensamento e Linguagem. Tradução: Jefferson Luiz Camargo: revisão técnica José Cipolla Neto. – 2ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1998 – (Psicologia e Pedagogia). Cap. 4 As raízes genéticas do pensamento e da linguagem.

- Oliveira, M. K. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico – São Paulo: Scipione, 1997 – (Pensamento e ação no magistério)
- Herzog, W. Jederfür Sichund Gott Gegen Alle. [Filme-video] Alemanha: ZDF Produções (Original: Cada um por si e Deus contra todos. Traduzido como: O enigma de Kaspar Hauser. Alemanha, 1974. Drama.
- Almeida, L.R. – Wallon e a Educação. In: Henri Wallon – Psicologia e Educação
- Dantas, P. S. – Para conhecer Wallon: uma psicologia dialética. Ed. Brasiliense, São Paulo, 1983   
           

Um comentário:

  1. Gostei! Explicação muito Clara e a comparação com o filme Kaspar House está perfeita.

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